Pureza

Gosto de observar as crianças, e admiro-as pela forma como elas enxergam a vida, e as pessoas em si. Eu já fui voluntária em uma ONG missionária por uns 2 anos, que trabalha com crianças de uma comunidade carente, e posso dizer que foi um momento de aprendizado e amadurecimento sobre a minha forma de viver.

A medida que fui convivendo com tais crianças fui percebendo a leveza na qual levavam a vida. Por mais dificuldades que tinham, pude perceber a alegria de viver no sorriso. Gente simples, feliz com tão pouco, enxergando as pessoas como são, e não pelo que possuem.

Numa dessas observações do comportamento das crianças, fui surpreendida por uma menina, com seus 5 anos de idade creio eu. Estava eu indo a um recanto de meninas, porém com um olho inchado (culpa de uma determinada infecção que tive), então tive perspicácia de usar um óculos escuro para que ninguém notasse a protuberância estranha no meu rosto.

Pobre iludida fui eu. Quando cheguei no recanto as crianças ficaram ainda mais curiosas sobre o porquê de estar usando aqueles óculos escuros. Surgiram então perguntas como: "Tia, porque tá usando esse óculos?", "Porque não tira esse óculos?", "A tia está cega?". Expliquei a elas o motivo, e depois conseguiram se contentar por algum tempo com a presença do bendito óculos.

Pouco tempo depois, um grupo pequeno de meninas veio até mim me pedindo para averiguar a situação do o meu olho inchado. Tentei declinar o pedido, mas, estavam obstinadas a vê-lo. Vendo que não tinha para onde correr, retirei os óculos e revelei o que estava escondendo. Me impressionei porque eu esperava uma reação de espanto ou nojo, mas, o comentário que recebi de uma das garotas foi este:  "Tia, seus olhos são lindos". Depois de ter mostrado, sessou-se a curiosidade, e voltamos normalmente as atividades recreativas. 

Confesso que fiquei surpresa com atitude das crianças. Eu passei por muitas pessoas que até perguntaram se eu estava bem, e para perguntas automáticas, dei umas respostas prontas como de costume: "estou bem". Mas aquelas crianças não se contentaram com as minhas respostas prontas como outros fizeram. Simplesmente perceberam algo estranho e tentaram entender e serem gentis comigo. Elas não se conformaram com um simples "Tá tudo bem".

É isso que eu admiro nas crianças: A pureza. A forma de vê a vida e as pessoas, desprovida de padrões. Crianças não enxergam o mundo com a maldade dos adultos. São sensíveis a dor do outro. Abraçam e acolhem e ainda te chamam para brincar sem se importar com as diferenças. Elas enxergam além do superficial. 

Quem dera por um momento, se os adultos parassem e seguissem o modelo de coração puro delas. Quem dera se aproximassem dos outros sem se importar com a aparência ou que possuem. Que sorrissem para vida com as coisas mais simples. Que sentissem a dor do outro e não a negligenciassem. Que aceitassem as diferenças. Quem dera se esse mundo adulto fosse mais humano e puro.

- Ingrid Maria Ramires

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