Cair em si

Cair em si é bom. Dos melhores embates travados entre razão e coração, os melhores resultados foram aqueles que me fizeram compreeder que o início deles sempre fui eu, e niguém mais.
Me encontro num estado de querer ser minha,  me possuir e assim ser feliz. 

Não, eu realmente não sou perfeita. Não tenho o melhor corpo, a melhor altura, o melhor cabelo, e nem nada que possa se chamar de invejável. Mas me quero assim, e me aceito.

Eu me quero desgrenhada de manhã, com meus cabelos bagunçados, vestida naquela camisa regata velha da banda de rock que eu já não curto mais, e mesmo assim me olhar no espelho e vê um belo desastre artístico que o meu agito fez enquanto dormia.

Eu me quero usando aquele lápis no cabelo, prendendo o coque mal feito enquanto assisto as aulas da faculdade.

Eu quero a minha versão mais divertida, que canta e dança as músicas com meus poucos amigos sem me importar com quem está me observando.

Eu quero curtir uma 'Bad' com a amiga, enquanto assisto um filme de romance água com açúcar, tão enjoativo, e rir das situações surreais.

Eu me quero de batom vermelho, de vestido, e de quebra usando um salto, só pelo prazer de querer estar arrumada para mim.

Eu também me quero largada em casa, usando um velho short jeans vestida na típica camisa folgadona enquanto tento organizar o caos do meu quarto.

Eu me quero aventureira, pegando a minha bicicleta e sair pela matina apreciando as paisagens das ruas.

Eu quero cantar e tocar meu violão, porque isso me deixa bem, me revigora e me traz ânimo, mesmo que a minha voz não seja uma das melhores.

Eu me quero escritora, me permitindo colocar cada pensamento e sentimento no papel, como se estivesse libertando passáros do cativeiro.

Eu me quero deitada na cama num daqueles momentos reflexivos onde tento entender ações e fatos criando teorias conspiratórias sem sentido.

Me quero permitir paz, amor e descanso.

Eu me quero, não como um padrão, mas, como essência de quem sou e da qual quase ninguém enxergou.

Me quero assim, ora sensível, ora forte. Ora corajosa, ora medrosa. Porque essa de fato sou eu, decidida e indecisa.

E a todos que perpassam por mim e tentam fazer-me de tola, e até conseguem, gratidão eu tenho por assim ser.

Sou tola mesmo, disso não tenho dúvidas, porque acredito nas coisas que me dizem e demonstram. Sou tola porque quando me dizem "amarelo", eu imagino a cor amarela na minha cabeça.

Sou tola porque acho que a humanidade não está tão perdida assim e acredito que ainda existem corações zelosos.

Sou tola! E não possuo acanho em adimitir. Na verdade,  não foi quem me fez de tola ou me chamou assim, ou quem me deu solavanco na caminhada, que me fez ser tão boba assim.

Posso até dar uma parte dos créditos por ter me ajudado a cair em mim e entender que essa sou eu. Mas no fim das contas, a história mesmo foi sobre mim.

E quero que seja exatamente assim. Todas essas facetas em uma só pessoa. 

Aprendi que sempre fui eu que estive comigo quando a deriva estava. Sou eu mesma que enxergo amor onde não tem e zelo por ele,  e sou eu que tento recomeçar colocando um sorriso no rosto todos os dias, mesmo tendo motivos para não fazê-lo.

Eu sou a mocinha, sou vilã e a heroína, e mais do que isso, sou a escritora do meu próprio conto. Não foram príncipes que me tiraram da masmorra, como nos contos de fada convencionais. Mas fui eu mesma que lutei contra os dragões que me atormentavam.

Fui eu mesma que da torre vi que precisaria estar forte, e construir armaduras resistentes, se quisesse alcançar além dos muros, os sonhos que me esperavam. No final das contas, fui eu. 

E o príncipe? Como diria Cassia Eller : "Quem sabe ele virou um chato, que vive dando no meu saco".

Eu me quero cada vez mais caindo em mim. No meu jeito escorregadio e tímido, nas minhas atitudes decididas, nas minhas atitudes indecisas, no aprendizado que tirei travando as batalhas, no meu jeito poético e único de ver a vida.

Aprendi a gostar de cada pedacinho da minh'alma e corpo. Eu sou minha, eu me possuo, me trago a realização, batalho, dou a cara a tapa, e não me abandono. Me quero assim até o fim. Talvez eu nem seja tão boba assim.

- Ingrid Maria Ramires

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