Eu sou filha das Marias

Cada verso escrito foi inspirado na vida da minha mãe, vó, e mulheres que de certa forma inspiraram minha forma de enxergar o mundo. São versos, que falam um pouco sobre as mulheres que admiro e mulheres que não conheço. Mulheres que morreram antes de contar história, ou antes que permitissem-nas contar. É sobre mim, é sobre todas. É Sobre ter coragem de falar mesmo sabendo que serei julgada. Talvez não sejam os melhores versos, mas garanto que há muito mais neles do que expus. Não vim aqui enaltecer as coisas ruins que aconteceram em nossas vidas, mas vim transcrever cada história, a postura que cada uma teve diante de toda essa violência. Também não vim ditar o que é preciso fazer ou não diante de tais situações. Vim clamar por voz. Por mais igualdade. Que todos os dias, sejam dias de lutar por um mundo mais justo. Esse é meu recado.


Eu sou filha das Marias 

Mulheres de fibra
Mulheres que batalharam,
Pelo futuro que almeijaram.
Mesmo que inisistam
em chama-las de sexo frágil.

Eu sou filha das Marias

Sou filha de quem me concebeu nova,
 a flor da idade.
De quem foi abandonada 
pelo parceiro. 
"Homem" que fugiu
Fugiu da responsabilidade;
que nos abortou
da própria vida.
Mas tudo bem, 
nós nos viramos.
Ficamos bem.

Sou filha das Marias

Sou filha daquela que foi mãe solteira.
Mulher que me aceitou 
e aceitou os desafios 
a responsabilidade 
e a virtude de ser mãe.
Mulher que aguentou ouvir
comentários indesejados
de quem não quis estender a mão.
Filha de quem tanto as pessoas
quiseram jogar pedras.
Que jogaram-na toda culpa.
Filha da Maria,
que dava duro no trabalho
para nos manter.

Sou filha das Marias

Sou neta de professora,
mulher que transbordara conhecimento, 
Que batalhou para ser reconhecida.
Trabalhava de manhã,
chegava tarde da noite.
dormia de madrugada,
e ao terminar os afazeres de casa,
dedicava-se a planejar suas aulas.

Sou filha das Marias.

Sou filha de mulheres corajosas
que aprenderam a dar seu jeito
quando o mundo virava as costas; 
Mulheres que carregam no olhar
lembranças mudas.
Mulheres que carregam nas rugas,
estrias e celulites
a beleza de ser quem são. 
Mulheres que exalam beleza
nas atitudes e no coração. 
Mulheres que encararam
a dura realidade
de supetão.

Sou filha das Marias

Mesmo que não percebam,
Sou filha das mulheres protagonizadoras
escritoras e poetas de suas histórias.
Sou filha das mulheres de mãos calejadas.
Mulheres que colocam o coração, 
Mulheres que empregam essência
em tudo que fazem,
em cada ação.
Guerreiras.

Sou filha das Marias

Marias corajosas.
que me ensinaram
que posso ter voz.
a não calar
diante do abuso.
a não baixar a cabeça diante do confronto.
Marias que vão para o front.

Sou filha das Marias

Sou filha das mulheres que
precisaram ser mortas
para que dedicassem apenas um dia.
um dia.
um dia de um ano inteiro.
um dia, dos 365 dias.
Ainda na vivência das desigualdades

Sou filha das Marias

das quais eu não seria capaz de descrever
pois são histórias peculiares,
específicas,
julgadas,
silenciadas na surdez da sociedade omissa.

Mães, esposas, senhoras, moças, crianças.
cientistas, administradoras, engenheiras,
professoras, psicólogas,
policiais, médicas, enfermeiras...
Todas com histórias
parecidas e diferentes.
No esquecimento,
na violência.
Shii... não podemos falar.
Eles querem nos calar.
Minha história
é mais uma.
Mais uma
que só quer ser ouvida.
Mas é reprimida.

Meu diligente abraço
respeito e admiração
por serem quem são.
Enquanto houver ar,
farei questão de lembra-las.
Pois sei quem sou.
Prazer, Sou Maria.

- Ingrid Ramires 👱



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