Ainda há ar.

A vida está enfastiada de usurpadores.
Gente mecânica,
Gente cega.
Gente que até enxerga, mas prefere covardemente se conter.
Gente que machuca sem se preocupar se vai doer.

Mas tudo bem,
Ainda há zelo.
Ainda há ar,
Ainda há vida e amor que há de se revelar.

Há mais que joelhos ralados
O choro de criança a ressoar.
Morte, doença e dor.
Há pavor, há horror.

Mas tudo bem,
Ainda há zelo.
Ainda há ar,
Ainda há vida e amor que há de se revelar.

Há gritos silenciosos,
Batalhas ocultas,
Gente de carne e osso
Feridas expostas a protestar
Nos escombros omissos a clamar.

Mas tudo bem,
Ainda há zelo.
Ainda há ar,
Ainda há vida e amor que há de se revelar.

Há miséria disfarçada de riqueza
Riqueza disfarçada de pobreza.
Há gente rica de casa grande e vazia.
Há gente pobre de casa pequena, mas que sabem profundamente diferenciação um lar e uma mera moradia.
Há poucos com muito
Há muitos com pouco.

Mas tudo bem,
Ainda há zelo.
Ainda há ar,
Ainda há vida e amor que há de se revelar.

Há gente que defrauda, enganando gente sã, de bom coração.
Há quem mente olhando nos olhos, sem consternação pela dor do coração do próximo. 

Mas tudo bem,
Ainda há zelo.
Ainda há ar,
Ainda há vida e amor que há de se revelar.

Mas tudo bem, ainda há fôlego e pulmões para respirar. 
E mesmo que mundo desista de acreditar,
Ainda não desista de orar.
Para cada injustiça, violência e dor, Deus nos dá a missão de amar.

Não abra mão de ser humano.
Não abra mão de sentir as dores do próximo e amparar.
De indiferença alheia já bastam os que tão obstinadamente estão o mal a realizar.

- Ingrid Ramires


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