Mundo Marginal

Esse é o mundo marginal onde é mais fácil jogar fora tudo o que se constrói. Bem vindo a uma selva impiedosa, onde projetam-se pontes de paz, mas planejam o mal de forma perspicaz.

Esse é mundo desnutrido de afeto, onde amar o próximo gratuitamente é sinônimo de ingenuidade não de gentileza. Mas acreditam que o desprezo é uma façanha de tamanha esperteza.

Bem vindo a essa selva, onde viver de aparências é admirável, sendo escravos das próprias futilidades, enquanto se ouve o choro de uma criança faminta, mas claramente consideram apenas algo desagrável. Mal sabem que seu ego e comodismo com as situações é miserável.

Em suas repugnantes avarezas, ignoram a desgraça alheia e fingem que não sentem, nem ouvem, trantando como um padecimento vil.

Esse é um mundo marginal onde as pessoas possuem medo de confiar, vivem dentro de suas caixas, esperando o sol raiar. Bem vindo ao mundo onde as pessoas não se doam por terem medo de amar, pois se tornou um conceito tão meramente vulgar.

Esse é o mundo onde as pessoas entendem que tem o poder de transformar o meio, mas se monstram displicentes. Se afogam nos próprios egoísmos e medos, enquanto afirmam que deixar as coisas para depois não é ser negligente e "deixa que o destino decida pela gente".

Sabe-se lá, um dia talvez, deixem as máscaras cair. Sabe-se lá um dia entendam que o mundo não gira em torno de si.

Talvez um dia, quando se libertarem das correntes da arrogância, pararem de vender suas próprias almas, e se vestirem com vestes de humildade entendam que o dinheiro não compra os sentimentos mais puros.

Decerto compreendam que os "loucos" na história que falaram de amor tinham mais razão. Que viver uma vida desprovida de cumplicidade é em vão.
É um mundo doente, não porque o meio interferiu, mas porque a própria humanidade não interviu.

Perdão, mas esse modo impertubável, acomodado, e cruel não me desse garganta abaixo. Estou aqui sendo mais um humano deplorável, na tentativa de não me tornar mais uma reprodução da passividade alheia.

Esse é o mundo marginal onde o choro é ignorado, e a dor é silenciada, enquanto em cada ser vai se iniciando um processo de amnésia a ponto de esquecer o apreço. Deus que me livre dessa epidemia da indeferença, dessa falta de afeto, de toda essa displicência.

- Ingrid Maria Ramires

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